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Mostrando postagens de junho, 2015

O último gole de conhaque

Fazia um frio doido. Ele olhava pela janela enquanto os demais quebravam o bar inteiro. Nem mesmo sabia o motivo. E tinha um desinteresse enorme em descobrir. Sentia uma sensação de preguiça. Quem sabe, até mesmo uma espécie de desamor. Não sabia ao certo. O importante era preservar aquele último gole de conhaque. Sua manhã fora longa, sua tarde seria mais longa ainda. E mesmo sabendo que a noite haveria de chegar não conseguia pensar em outra coisa. Tudo o que queria era a sua poltrona e a sua máquina de escrever.

A revanche

Abri meus olhos e mirei o teto por longos instantes. As moscas voavam e o meu estômago parecia torcido. E isso me fazia entender de onde vinha boa parte do cheiro que adornava as minhas camisas, os meus casacos, a minha pele e os meus pensamentos. E a minha carniça é invariavelmente composta de café preto, gordura de pastel, álcool, tabaco, perfumes baratos e toda a alma que faz daquela espelunca, a mais odorosa da cidade. Não pense que estou reclamando, é apenas um autoexame de reconhecimento. Quando reviro o meu ser, as minhas roupas, a minha quitinete, os meus escritos e todo o mais, encontro mais ou menos a mesma coisa: a minha vida. E a minha vida é quase uma extensão daquela pocilga. Pois é, realmente não busquei nada diferente disso. Eu sempre soube que a desgraça não atraía tantos candidatos e isso me mostrou que eu não precisava lutar pra ter o que a maioria sempre desdenhou. Louco. Inútil. Desafortunado. Perdedor. Seja lá como for: pouco me importa. A grande verdade,

Sobre eu e o meu lixo

O contêiner da rua está sempre cheio, porque todos os moradores dos arredores usam essa porra. Há todo tipo de coisa lá dentro. Acho que o lixo de uma pessoa pode falar muito a respeito dela. E o meu lixo é composto basicamente por latas de cerveja, algumas embalagens de comida congelada, que me transformam em alguém muito melhor, por consumir tal produto, e muitos maços de cigarro amassados, como a minha cara. Eu sei, vou morrer, mas isso eu já aceitei, o que me incomoda mesmo, é muito maior. Porque o lixo é algo que fala com a gente. Só que nem todos prestam atenção nele. O ser humano vive em fuga. Gosta do que é bonito, do que cheira bem. Somos hipócritas por natureza. E temos a esperança de que a verdade sobre nós mesmos não nos leve pra dentro de um sanatório. E isso faz sentido. Ao menos pra minha pessoa. Não pense que sou um sabichão, porque na verdade, eu me pareço com meu lixo, e sinto como se houvesse um contêiner abarrotado dentro de mim, prestes a