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Uma camisa de força

Somos enganados o tempo todo A cada turno Em que entramos nas fábricas Eles nos prometem um punhado de moedas E sempre existe uma enorme perspectiva pra crescer Mas nada certo Tudo depende exclusivamente de você É o que dizem Mas eu não vejo nada disso E o que eu vejo São pessoas Entregando os seus sonhos E sacrificando os seus dias Sob o pretexto de uma promessa Que no fundo Nem ao menos existe E quando você chega em casa Destruído O que você (a gente) faz? Raspamos as moedas em nossos cofrinhos E saímos como loucos por aí Doidos pra gastar o que não temos Em coisas que nem ao menos Precisamos Sei lá Talvez eu seja só um louco Mas o fato é Que quando fui em busca de lucidez Havia uma camisa de força Nas mãos do meu enfermeiro

Fogo no céu

Em meio ao caos Do mundo insano Galopo um alazão Que cospe fogo E tem um par de asas E como disse o sábio Poucos sabem das feridas do inferno Porque senão O que faríamos dos anjos? Em que sepultura enterrou o que sente Em que mundo fez seu cerne Como chama seu cavalo? E quantos quilos ele pesa? Como ele é de pata? E quando ele bufa Você consegue sentir o calor? Eu tenho um demônio em minhas mãos É selvagem e poderoso E sempre que o vejo Solto suas rédeas E o deixo me levar E depois de algumas milhas Ele é manso E relincha E bate seu casco no chão quando me vê E nessa hora Eu tenho certeza Ele sabe Que vamos matar a saudade E correr Correr Até virarmos fogo no céu E possamos morrer

A canção da eternidade

De tempos em tempos Viajo em busca de uma oportunidade Pra ouvir os segredos Que as águias contam Enquanto cantam Lá no alto da montanha E costumo levar uma lona comigo Pra imitar um ninho Parecido com o delas Pra que eu possa abrigar O meu corpo E libertar a minha mente Durante uma boa temporada Pra refazer o meu espírito É onde E quando Faço uma fogueira Com lenha E folhas de laranjeiras Pra queimar os maus espíritos E a rodeio de mantas Feitas no tear E que me aquecem durante As longas horas Que me cobrem Ora de sol Ora de lua Ora de estrelas E horas e horas E dias e dias E meses e meses E que revestem o meu arco Com a luz de que preciso Pra me refazer Tal qual uma águia Que de tempos em tempos Enterra-se pra renascer E redobrar a sua vida E a sua força É um tempo de isolamento De aprendizado De aceitação E de boa-vontade Em que a minha alma vibra Pois sinto que o meu sangue circula E im

Na estrada

Gosto de levar uma vida rude Busco a liberdade desde o dia em que nasci Nunca foi uma escolha E sempre me pareceu muito maior do que eu Sou um cara parecido com qualquer um Ando de bar em bar De dia em dia De noite em noite Eu gosto do vento E quero furar o horizonte Enquanto vivo uma utopia Com o único objetivo De manter Meu corpo Minha mente E meu espírito em movimento Eu sou um homem na estrada Sou um cara parecido com qualquer um Que busca um caminho Algo que possa me fazer sorrir Todo dia E assim como você O que busco é um pingo De amor E um tanto de liberdade Eu quero um amor Pra findar as minhas noites Um lugar pra voltar E amigos pra beber E conversar Eu acho que os homens Podem sim Encontrar um sonho de amor E bons corações Pra repartir um pouco Do que sentem

Sobre o homem e a piedade

O homem com o machado em sua mão, não tinha piedade do semelhante desarmado. Contudo, sua ignorância o impedia de raciocinar além da própria vantagem. E por isso, o homem desarmado deu no pé, mas passou na loja que vendia machados, antes de chegar em casa. E no dia seguinte, tudo mudou.

Os dois lados da mesma moeda

Estou munido de coragem. Dizem que esta merda de programa de reconciliação dá certo. Fala-se que colocar as duas partes, uma diante da outra: é benéfico. Parece que o índice é muito bom. E mesmo depois de dar a eles o que queriam não ganhei nada em troca. Vou dizer o que fiz. Eu matei. Queria meter um carro e matei. Ele não me entregou a chave. E na luta: era eu ou ele. Eu atirei. Eu era o predador naquele momento. Eu errei! Fui preso. Estou aqui. Vou pagar meus pecados. Mas ela não me perdoou. Disse que o perdão não traria seu marido de volta. Eu sabia disso melhor do que ela. Muito bem, eu aceito. Não tenho o poder de purificar. Deve achar ser melhor do que eu, mesmo sem entregar o perdão que cultiva em sua igreja. Mas eu tive um motivo pra meter o carro. Pra entrar pro crime. Vamos ver se me ouve até o fim e me entrega um pouco de toda a virtude que exige. Quando pequeno, eles estouravam a nossa porta atrás de algo que nunca existiu lá. Arrancavam as gavetas. As roupas

No campo de batalha

Ele me olhou e disse: “Meu amigo, vamos pra casa. Acabou. A guerra acabou”. Havia esperança nos olhos dele. E certamente ainda havia esperança nos meus. Sonhamos tão grande que eu acho que não conseguimos realizar tanto. Quando abandonei o meu canhão eu senti vontade de chorar. Mas as palavras dele me sustentaram. Até hoje ainda nos correspondemos. A gente fez um acordo depois do nosso batismo de fogo. Foi uma batalha dura e a madrugada era congelante. Bebemos um litro de uísque. No fundo queríamos afugentar o medo e a culpa ao mesmo tempo. Não sei ao certo. Mas o mais importante de tudo é que estávamos dispostos a sairmos juntos daquele inferno. Cumprimos o juramento que fizemos um ao outro. E isso é verdadeiro. E totalmente justificável. O que não fazia sentido era a guerra. Estávamos ali pra defender os interesses de nossos líderes. Tudo começou quando disseram que lutavam pela nossa nação. Pensar que homens fumando charuto decidiam a nossa sorte é uma loucura. Precisáv