A doze
“O que está fazendo?”, perguntou-me. “Pretendo caçar”. Deu meia-volta e seguiu para a cozinha, o cheiro era de bolo de maçã. Olhei pela janela e contemplei a chuva fria. Perdi-me, olhando o horizonte, o mar. Por toda a minha vida eu quis estar ali. Bateu-me no ombro, era um chá adocicado, perfeito em seu aroma. “Beba, espanta o frio”, me disse. Agradeci com um sorriso. Ela entendeu. Sempre que Mariana fazia esse bolo com maçã, guardava as cascas para a infusão. Sentei na varanda e fiquei olhando a cabana de madeira. Um sonho que acabou e ainda continuava de pé. Estranho. Talvez fatídico. Coloquei a mão no bolso e li no maço de cigarros que servia de papel, “Eu te amo, mais do que imagina”, era da Clara, que não fumava. Dobrei novamente em quatro partes e devolvi-o ao mesmo esconderijo. Lembrei dela comigo, os dois sentados na areia, ao sol como lagartos que se esquentavam depois do amor, eu fumegava, ela me fitava com carinho. Era triste. Pensar em tudo aquilo me soava fúnebre. Tant...