No campo de batalha
Ele me
olhou e disse: “Meu amigo, vamos pra casa. Acabou. A guerra acabou”. Havia esperança
nos olhos dele. E certamente ainda havia esperança nos meus.
Sonhamos tão
grande que eu acho que não conseguimos realizar tanto. Quando abandonei o meu
canhão eu senti vontade de chorar. Mas as palavras dele me sustentaram.
Até hoje
ainda nos correspondemos. A gente fez um acordo depois do nosso batismo de
fogo. Foi uma batalha dura e a madrugada era congelante. Bebemos um litro de
uísque.
No fundo
queríamos afugentar o medo e a culpa ao mesmo tempo. Não sei ao certo. Mas o
mais importante de tudo é que estávamos dispostos a sairmos juntos daquele
inferno.
Cumprimos o
juramento que fizemos um ao outro. E isso é verdadeiro. E totalmente
justificável. O que não fazia sentido era a guerra.
Estávamos ali
pra defender os interesses de nossos líderes. Tudo começou quando disseram que
lutavam pela nossa nação. Pensar que homens fumando charuto decidiam a nossa
sorte é uma loucura.
Precisávamos
de mantimentos. E a resposta foi essa: “O bom soldado acha a sua comida”. Claro
que sim. Fomos obrigamos a tomá-la do povo pra seguirmos as decisões de quem
fumava charuto.
A nossa
munição estava no fim. Pedimos mais. E a resposta foi objetiva: “Usem as
baionetas”. Isso foi horrível. Quanto mais a gente matava mais a gente morria.
Aprendi uma
coisa na guerra. Pra cada homem no campo de batalha havia alguém a chorar. No fundo
somos todos iguais. Tudo o que queremos é paz pras pessoas que amamos.
Porém,
homens que fumam charuto nem sempre se importam com isso. Porque embora
houvesse muito sangue no campo de batalha não se via nenhuma gota em seus
casacos ou medalhas. E isso faz toda a diferença.