Amanda não vai embora
Sentada no
sofá, acaricia seus lábios. Levanta sua perna esquerda que apoia com seu pé.
Seu joelho vem parar perto de seu queixo. Com a mão direita, faz caracol em seu
cabelo, só por arte, para deixar cair o rolo feito de quando em quando.
Seus olhos
são como uma imensidão perigosa. Um lago parado e profundo que cintila o que
você não alcança ver. Neles existe algo que me deixa a pensar em seu
significado. Viceja um ar por entre os dois que nunca desvendei.
Meus
pensamentos mandam meus olhos para seus lábios e vejo mel. Distribuídos para
fascinar e fazer mal. São de um tamanho que de discreto nada tem, de tanto que
chama outros. Beber deles é encontrar um mestre para todo sempre.
Eu a amei
com todas as minhas forças. Não tenho ideia de por que aconteceu. Em minha
mente não havia problema. O pior de tudo é a certeza de nunca saber a verdade.
Não é justo! Agora penso mil coisas e só passo mal por conta de tal silêncio.
Pensei em
fazer o mesmo. Talvez seja minha única saída. Algumas coisas escolhem a gente.
Não dá para controlar tudo sempre! Em algum lugar eu me perdi, porra! Minha
cabeça está uma bagunça, meu cabelo desgrenhou, minha barba cresceu.
Quando a
encontrei, esmagada, na calçada do prédio, entrei em choque. Ela me sacaneou
cara. Nunca disse nada. A gente ouvia música na sala. Eu ainda estava melecado
por conta do sexo que fizemos. Ela simplesmente se levantou e se jogou da
sacada.
Se ela queria
ir, por que não disse? Decidiu e fez! Compreendo que quisesse partir. Eu não a
seguraria aqui. Nunca agi como seu dono. Se, queria sumir, tinha de
simplesmente, dizer; mas se suicidou no fim de tarde, quando o sol se
enterrava. “Então por que continua aqui? No mesmo sofá. Fazendo o que sempre
fazia?”.
Quando
conto o que vejo, escuto que sou louco. Aumentam os miligramas dos meus
remédios. Esquizofrenia, dizem sempre, quando louvavelmente pensam em me
diagnosticar e tratar. Eu os odeio! Mas compreendo que é muito mais fácil me
chapar de medicamento que mandá-la embora. “Covardes!”.
Amanda
pulou do vigésimo andar. Ela me fodeu na vida. Mesmo assim está presa em sua
própria liberdade. Em seu suicídio! Eu a vejo no mesmo sofá. A mesma de sempre.
“Amanda é uma alma penada que não vai embora nunca”.