Nenhuma meretriz que se preze recebe o próximo cliente sem antes escovar os dentes e tomar uma boa ducha
O tom de
brincadeira circulava no bordel enquanto alguns frequentadores questionavam o
desaparecimento de muitos amigos que tiveram uma noite com ela.
— Depois de
ter uma mulher dessas nos braços todos somem no mundo porque entendem que sem
ela não vale a pena viver — dizia um dos homens a beber e a rir com sua garrafa
quase vazia.
— Uma
mulher dessas vira a cabeça de qualquer um... Eu corro o risco de ficar pinel
do miolo em troca de uma-bem-dada com ela — falava outro a rir ainda mais
loucamente que o primeiro.
— Eles não
voltam mais porque não aguentam uma mulher como Ornela — afirmava um terceiro
tão empolgado quanto os demais. — Imagina aparecer aqui e ter de admitir na
frente dos amigos que na cama ninguém pode com ela — completou e riu de novo.
Quem a via
se encantava, quem a ouvia se arrepiava e quem a tocava tornava-se inteiramente
dela. Ornela era irresistível por conta da sua beleza estonteante, do seu corpo
esguio, dos seus gestos e da sua montada, quando subia em cima dos caras, já
era, porque ninguém aguentava.
A vida no
puteiro tornou-se boa e não um recalque, um problema. Passar os dias e noites a
vadiar com um e com outro rendia muitos presentes e a mantinha com a cabeça
ocupada, corpo sonolento e embriagado. Bem ou mal, sempre havia um prazer com
um ou com outro, por isso ou por aquilo, de uma forma ou de outra.
Jovem e
bonita não demorou muito para que Ornela se tornasse a sensação mais desejada
do lugar. O leilão pelo seu corpo movimentava a casa dia e noite. Muitos faziam
loucuras depois de uns goles e um minuto ao seu lado na mesa, qualquer um deles
pagaria muito dinheiro para deitar com ela.
Mas como no
mundo tudo tem um preço e nem todos podem pagar tal preço, Ornela foi
arrematada por um importante político, um deputado. Pagamento como de costume,
muito caro e ainda adiantado.
— Eu a
quero por inteira — disse ele.
Ela
respondeu sem palavras, somente com uma feição das mais provocantes, de modo
que ficou subentendido que a noite seria incrível.
No quarto,
quando ele a viu de lingerie, sentiu que seu membro latejou no meio de suas
pernas. “É agora”, pensou ele. Em poucos minutos ele e ela engalfinhavam-se na
cama. Pela superfície do corpo do pagante era possível perceber o surgimento de
bolotas de arrepios que se formavam uns sobre os outros.
O
contratante sentia que aquela seria a sua melhor noite, como se fosse um
garanhão de tão disposto. Aí é que Ornela aproveitou. Enquanto o velhote perdia
a cabeça e deixava que seus instintos o comandassem, ela deu a montada, e que
montada.
Rapidamente
a face de Ornela começou a transformar-se em uma caveira dona de dentes
perigosos como os de um demônio. Em poucos minutos, quem estava sobre o velhote
era nada mais e nada menos do que o esqueleto da morte a abocanhar a carne do
rosto do homem com uma euforia descomunal.
O velhote
tentou esboçar uma reação fugitiva, que rapidamente foi sufocada pelas mordidas
da figura cadavérica de Ornela em sua garganta. Em poucos minutos o homem era
apenas um esqueleto imóvel, sem vida e sem nada de carne sobre seus ossos.
Deitada na
cama Ornela estava satisfeita e sabia que precisava de um tempo para a sua
higienização pessoal. Afinal de contas, nenhuma meretriz que se preze recebe o
próximo cliente sem antes escovar os dentes e tomar uma boa ducha.