São 9 andares
“Mas o que
você está fazendo aqui?”, perguntou.
“Ora,
bebendo uma cerveja”, falei.
“Mas por
que aqui em cima?”, insistiu comigo.
“É que a
minha TV está um lixo e a minha mulher quer assistir, então eu vim até aqui dar
uma olhada na antena”, falei.
“Certo”,
respondeu, “mas você não vai me impedir, vai?”, finalizou.
“Impedir,
como assim, impedir de quê?”, perguntei.
“Bem, eu
decidi que vou me suicidar e acabar com toda esta porra de vida”, respondeu.
“Entendo,
mas me diga, você acha mesmo que vale a pena, pense na sujeira que vai fazer lá
embaixo, na calçada da rua, imagine a confusão, são 9 andares, projete a imagem
de um gari com uma vassoura e uma pá na mão recolhendo o que sobrou de todo o
seu corpo e das suas frustrações e odiando a experiência, o seu nome ficará
marcado como o de um simples suicida, eu acho que não vale a pena, vá pra casa,
abra uma cerveja e depois de bebê-la, durma, quando acordar, tudo ficará bem, o
que acha?”, falei.
“Certo,
você tem razão, eu vou embora”, respondeu.
Tomei mais
um gole e dei o fora, antes que ele voltasse e eu tivesse de me meter com esta
história de novo, porra, eu sou um cara durão, solitário e egoísta, afinal de
contas, não quero me envolver na vida de ninguém.
Logo que
entrei em casa ganhei um beijo repentino, então respirei fundo, pois pude ver
que a TV estava com uma imagem milagrosamente ideal e fiquei contente, porque
eu sabia que o restante do dia seria tranquilo e poderia beber a minha cerveja
e escrever em paz.